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Cisternas do Projeto começam a ser construídas
Um dos aspectos mais importantes do Projeto Juventude Quilombola, executado pelo Centro de Assessoria do Assuruá (CAA) com o patrocínio da PETROBRAS, é o planejamento e desenvolvimento das Unidades Produtivas e empreendimentos coletivos, pensados e executados pelos grupos de jovens para a promoção de oportunidades de renda, trabalho e inclusão sócio-produtiva nas comunidades.
Tratam-se de projetos produtivos estruturados que tem como objetivos centrais a promoção de atividades para a melhoria da gestão e produtividade dos empreendimentos econômicos e solidários a partir de uma produção coletiva agroecológica e do beneficiamento e comercialização de produtos da agricultura familiar.
Para tanto o CAA viabiliza um importante investimento em infraestruturas produtivas para que os grupos de jovens potencializem seus empreendimentos com foco nas cadeias produtivas inseridas nos contexto do Semiárido. Estes investimentos são baseados nas tecnologias sociais já desenvolvidas pela Entidade: cisternas de produção, canteiros econômicos, etc.
Nessa semana, nas comunidades da Volta Grande e Lagoa Funda (ambas em Barro Alto) as primeiras cisternas de produção começaram a ser construídas. Os jovens se organizaram, acompanharam o início das obras e, agora, já se preparam para os cursos que os capacitarão para tocar seus empreendimentos e gerar renda e trabalho.
As máquinas começam a abrir os buracos onde serão instalados os reservatórios destinados a guardar água da chuva para a produção de alimentos e produção as matérias primas que, no futuro, serão comercializadas pelos próprios jovens nos mercados locais. A expectativa, segundo a coordenação do CAA, é que nos próximos dias as cisternas estejam prontas para o uso dos grupos inscritos no projeto.
“A questão de gênero é também muito importante”
Coordenadora do Projeto Assistência Técnica e Extensão Rural para as Mulheres (ATER – Mulheres) executado pelo Centro de Assessoria do Assuruá em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Camila Batista é uma das lideranças do movimento feminista no Território de Irecê. Integrante da Marcha Mundial pelas Mulheres, bacharel em Direito e mestranda pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar Sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (PPGNI) da UFBA; atualmente Camilla coordena o setor de mulheres do CAA e se engaja em questões sociais diversas no Território de Irecê.
Numa entrevista descontraída, Batista falou sobre a importância das ações do projeto Juventude Quilombola; executado pelo Centro de Assessoria do Assuruá (CAA) com patrocínio da Petrobras, e a importância de fortalecer a vida econômica, social e cultural da juventude de comunidades remanescentes de quilombos no território de Irecê.
BLOG JUVENTUDE QUILOMBOLA– Camila, o projeto Juventude Quilombola visa atender 200 jovens no território de Irecê. Destes, 111 são mulheres. Para você qual a importância desta ação?
Camila Batista – É extremamente importante, porque o projeto Juventude Quilombola é voltado para atender a juventude, só que neste cenário há um recorte de gênero, onde muitas vezes as mulheres jovens estão submetidas ou ao trabalho doméstico ou a mercantilização do próprio corpo. Então um projeto como este tem papel fundamental para conscientizar as mulheres jovens, onde elas possam garantir sua autonomia pessoal, econômica e social e deixem de fazer parte deste percentual de mulheres jovens em nosso país que muitas vezes sofrem abusos dos mais diversos tipos.
BJQ – Qual sua visão sobre as ações pedagógicas do projeto, principalmente no que se refere à formação desses jovens enquanto cidadãos?
CB – A parte pedagógica é importante porque trabalha com a questão do gênero, raça e geração. Ou seja, trabalha a questão da raça, que é extremamente importante, além do reconhecimento destes indivíduos como negros, como quilombolas. Nesse âmbito, para que tais questões sejam trabalhadas e haja tal resgate, a questão de gênero é também muito importante, uma vez que a questão da divisão sexual de trabalho, seja o jovem do sexo feminino ou masculino, precisa ser compreendida. Existe uma divisão sexual no mercado de trabalho e esta desigualdade precisa acabar. Para isso, precisamos de políticas públicas diversas. Então, eu vejo os conteúdos e as ações pedagógicas de projetos sociais como o Juventude Quilombola como um avanço e tenho certeza que o resultado será muito positivo.
BJQ – Camila, como coordenadora de um projeto voltado para atender às mulheres, qual sua visão sobre a posição das mulheres aqui no território de Irecê, principalmente das jovens de origem quilombola?
CB – Infelizmente, dentro da divisão sexual do trabalho, as mulheres do campo são as que mais sofrem. Porque elas são vistas apenas como ajudantes e não trabalhadoras rurais e esse é um contexto que deve ser quebrado. Então, eu acho que o projeto por ter esse caráter de atender à juventude é um ponto positivo, pois pode-se trabalhar a questão da desigualdade social, racial e de gênero desde a juventude, onde a formação desse jovem reflete para sua vida adulta e isso é de suma importância para garantir também a autonomia para as jovens e os jovens remanescentes de quilombos no território de Irecê.
BJQ – Quais suas considerações a respeito da valorização da consciência dos jovens descentes de quilombos; a valorização da cultura; de suas peculiaridades e traços históricos?
CB – É extremamente importante. Primeiro porque esta desigualdade de classes ela tem cor, e quem está na base dessa pirâmide social são as pessoas negras. Então, no meu entendimento existe ao longo da história um preconceito onde o negro é visto como inferior, e isso é trabalhado nesse projeto, no sentido de quebrar essa imagem. Então, através dessa iniciativa vai-se trabalhar de forma aprofundada a questão racial com estes jovens, para que eles se reconheçam como quilombolas. Espero que o projeto possa ter um acervo para no futuro possamos fazer um livro ou um vídeo para que outras entidades possam dar continuidade a projetos dessa natureza.
BJQ – Camila, quais outros potenciais você consegue enxergar no Projeto Juventude Quilombola?
CB – Eu sou mãe, sou feminista, coordenadora de um projeto para mulheres no território há um bom tempo, vejo a vital importância à execução desse projeto, porque vai garantir para nossa juventude mais oportunidade no mercado de trabalho, mais formação, mais valorização, mais capacitação e basicamente eles vão ter esse reconhecimento – vão mostrar sua luta, sua história. Eles serão iguais a qualquer pessoa da sociedade, seja em gênero, raça ou classe. Então, tenho que parabenizar o CAA quando escolheu o tema, porque foi um tema certo, propício para o território que tinha uma carência de projetos para atender essa classe da população que precisa ser reconhecida, valorizada e incluída no contexto social da região.