Grupo Jovens em Busca de Igualdade

Lagoa Funda - blog

Em busca da igualdade, sempre!

Com a chegada do Projeto Juventude Quilombola – Uma iniciativa do Centro de Assessoria do Assuruá (CAA) com patrocínio da PETROBRAS – os jovens da comunidade Lagoa Funda criaram o grupo ‘Jovens em Busca de Igualdade’, com o objetivo de exaltar as tradições culturais de sua comunidade e também dialogar sobre os problemas que eles enfrentam no dia-a-dia. O grupo canalizará os esforços do projeto para fortalecer a comunidade, por meio da inclusão produtiva com base em preceitos como a economia solidária e a autogestão dos empreendimentos que serão implementados.

A história da comunidade demonstra que a noção de igualdade e o acesso a políticas públicas estruturantes é um direito que eles tiveram negado ao longo dos anos, uma realidade comum a quase totalidade das comunidades tradicionais remanescentes de quilombos espalhados pelo território brasileiro.

Formação da comunidade

 

As origens da comunidade, localizada no município de Barro Alto, remontam a chegada de imigrantes, oriundos de Brotas de Macaúbas para se estabelecer na região. Os pioneiros, Sebastião José da Silva, José Cirino Neto e Manoel José da Silva, adquiriram terras junto a Moisés Martins, latifundiário histórico da região, e retornaram a Brotas para buscarem suas famílias a fim de morar nas terras recém adquiridas, assentando assim a origem do povoado.

De 1926, ano da chegada dos primeiros habitantes, até hoje, Lagoa Funda cresceu e se transformou em distrito, com uma população de aproximadamente 3000 pessoas. Com o passar do tempo, um bairro de Lagoa Funda passou a reunir famílias remanescentes de quilombos, criando assim uma comunidade com identidade própria dentro do distrito.

“As Malvinas”, como o bairro passou a ser conhecido, se organizou a partir da distribuição de lotes ocorrida no final dos anos 1970, em um processo desencadeado pelo poder público municipal a partir da desapropriação de terras de um antigo morador. Graças a isso, várias famílias oriundas de municípios próximos se instalaram por ali. Posteriormente parte delas venderam suas casas para outras famílias.

Com o passar do tempo, a aglomeração de remanescentes quilombolas no bairro criou alguns estigmas junto ao distrito, como o de que “tudo o que não presta vem para as Malvinas”. Apesar do preconceito explícito, os moradores possuem relação de trabalho e estudo dentro de Lagoa Funda.

O processo de certificação como comunidade tradicional quilombola reconhecida pela Fundação Cultural Palmares foi conquistado graças à participação da Associação Comunitária de Lagoa Funda, que entendeu o valor dessa demanda para as famílias de Malvinas, uma vez que estas ainda não possuem sua própria associação comunitária.

As tradições culturais de Lagoa Funda estão ligadas à tradição religiosa, muito ligada ao catolicismo. As diversas festas religiosas ao longo do ano demarcam essa tradição. Registra-se também a presença de grupos de reisado e rezadeiras, marcando evidencias do sincretismo religioso tão característico na Bahia.

Aspectos econômicos e sociais

 

O distrito possui um Posto de Saúde da Família (PSF) e Agentes Comunitários de Saúde para realizar o trabalho preventivo na atenção básica. Culturalmente falando, existe uma tradição entre as famílias de utilizar ervas medicinais para resolver problemas de saúde mais pontuais, conhecimento adquirido através da experiência de pessoas mais idosas e também das benzedeiras locais.

Lagoa Funda possui sistema de abastecimento de água proveniente de poços artesianos. Esta água, porém, se apresenta de forma salobra e não é tratada, apresentando alto índice de coliformes fecais. Mesmo assim, a população e suas criações de animais fazem uso da água dos poços para consumo. As casas que ainda não contam com abastecimento de água encanada utilizam cisternas de placas de 16 mil litros, que captam e armazenam água da chuva para o consumo das famílias, visando provê-las de um meio para resistir aos longos períodos de estiagem. Também foram construídas algumas cisternas de produção, que armazenam 52 mil litros que dão suporte a produção de alimentos para a subsistência.

A comunidade se organiza principalmente através da Associação Comunitária Lagoa Funda de Barro Alto, que possui uma experiência considerável trabalhando nos preceitos da agroecologia. A associação possui uma área ecológica preservada, além de outra área coletiva onde grupos de agricultoras cuidam do manejo e da produção de hortaliças e árvores frutíferas, sendo a área equipada com uma cisterna de produção.

De uma forma geral, a atividade agrícola de Lagoa Funda se baseia na agricultura de sequeiro, embora exista um consenso, por parte da comunidade, sobre a necessidade de diversificar as práticas agrícolas. A comercialização dos produtos é feita por meio de feiras e organizada pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais, em alguns casos por meio de intermediários. Existe também acesso aos mercados institucionais através da cooperativa AGROCOOP e da Secretaria de Ação Social que executam e articulam os Programas PAA e PNAE.