Grupo Jovens Ação do Bem

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Origem nômade

A comunidade de Volta Grande, localizada no município de Barro Alto, no Semiárido baiano, fundamentou a sua origem no nomadismo de pessoas oriundas de vários lugares, que buscavam acesso a condições básicas para trabalhar tirando o próprio sustento da terra. É possível que a chegada dos primeiros habitantes tenha sido influenciada pela abundância de lagoas que se formam na região durante o período chuvoso.

Em busca por esses recursos hídricos, os primeiros habitantes da comunidade faziam longos percursos na à procura de terras e água, percorrendo “grandes voltas” na região, nas palavras dos antigos moradores. Isso inspirou o batismo do lugar, que recebeu o nome de ‘Volta Grande’, em alusão a essa peregrinação.

Era o início da ocupação daquele território. O embrião histórico e social de Volta Grande está ligado a esse nomadismo, essa busca por oportunidades. Uma verdadeira “luta por terra e água” que, fincado nas trajetórias dos antepassados, marca alguns aspectos sociais individuais e coletivos da comunidade.

As manifestações culturais em Volta Grande estão ligadas a tradição religiosa da Igreja Católica na comunidade. As festas religiosas demonstram essa identificação, sendo importante para na construção das tradições locais. A partir de 2010, o Dia da Consciência Negra passou a ser celebrado na comunidade, no intuito de fortalecer a identidade quilombola da comunidade. Tal fator demonstra a existência de diálogo dos moradores com suas origens históricas, uma aproximação com o legado de seus antepassados.

Aspectos educacionais e de saúde pública

 

Volta Grande conta apenas com uma escola primária, que oferece ensino até a 4° série do primário. Apesar disso, a comunidade possui bom acesso ao ensino formal em outros níveis, pois está localizada próxima à zona urbana do município, tendo assim bom acesso a outras escolas. Devido a isso, a maior parte da juventude em idade escolar está matriculada e estudando.

Existe uma parcela de jovens que já foram formados, seja em escolas técnicas, seja no ensino superior. Estes, de volta a comunidade, se engajam nas organizações comunitárias e mobilizações locais. Porém, o acesso ao ensino superior e técnico só é possível para quem consegue, por conta própria, se deslocar para cidades maiores e capitais.

A juventude local também vem tendo acesso, lentamente, a outros programas educacionais, como o TOPA, PRONATEC, EJA, o Universidade Para Todos (UPT). Ações de formação não escolar, como o Programa de Formação e Mobilização Popular da ASA, contribuem firmemente para fortalecer a noção de pertencimento e consolidação das identidades juvenis.

Se na educação a comunidade tem se destacado positivamente, a saúde em Volta Grande se mostra precária. A inexistência de um posto de saúde faz com que a população local precise se deslocar para Barro Alto ou outros municípios.

 

Acesso à água e aspectos ambientais

 

Volta Grande possui sistema de abastecimento de água, que serve tanto para o consumo humano quanto para o consumo animal. Anteriormente a comunidade dependia da água que se acumulava nas cacimbas e poços – situação característica em várias comunidades de toda a região. O abastecimento de água, porém, atende somente uma parcela das casas, sendo que boa parte da população ainda não recebe o abastecimento regular da EMBASA. Essa parcela, no entanto, recebeu cisternas de placas de 16 mil litros, que captam e armazenam água da chuva, garantindo o atendimento das necessidades básicas. Existem ainda algumas cisternas de produção que armazenam água para a agricultura de subsistência.

A caatinga é a vegetação predominante, que já está consideravelmente desmatada para atender as necessidades das plantações e criações. A falta de conscientização das famílias agricultoras, somada a ausência de políticas públicas de preservação ambiental se reflete em práticas ainda existentes como a ‘coivara’, o ato de queimar a terra para ‘limpá-la’ de ervas daninhas. Tal realidade, porém, vem se transformando gradativamente com a chegada de projetos pautados na filosofia da convivência com o Semiárido.

A região possui uma precipitação pluviométrica anual em torno de 600 a 700 mm, e a temperatura media variando na casa dos 28°C , mas podendo atingir em épocas mais quentes do segundo semestre temperaturas em torno dos 35° C, que são condições climáticas semelhantes a outros municípios do território de Irecê.

 

Organização social, aspectos econômicos e acesso as políticas públicas

 

A comunidade de Volta Grande se organiza de forma propositiva, apresentando uma associação comunitária ativa no dia-a-dia. Presidida por um jovem, ela se engaja em atividades voltadas para a valorização histórica e cultural da comunidade. Atualmente, os representantes comunitários já se articulam para, através da articulação comunitária, concorrer a editais públicos que trarão melhor estrutura produtiva e ações de educação, educomunicação, dentre outras linhas de ação.

A igreja católica também desempenha um papel importante para a organização social dos moradores locais, sendo o fator religioso um importante elemento de interação e articulação social, contribuindo ainda como parceria para qualquer projeto social que venha a se desenvolver no contexto local.

Economicamente, a comunidade se dedica a agricultura familiar, de forma geral. Em Volta Grande predominam as pequenas propriedades, sendo que as principais culturas exploradas são as de milho, mamona e feijão. A comercialização dos produtos é feita principalmente através de feiras livres, e em alguns casos por meio de atravessadores.

Graças à organização social bem estruturada, parte das famílias agricultoras acessam os programas de fomento a agricultura familiar (PAA e PNAE), que contribuem para o incremento da renda, através de preços mais justos.

 

Grupo de Jovens

 

Com a chegada do Projeto Juventude Quilombola – Uma iniciativa do Centro de Assessoria do Assuruá (CAA) com patrocínio da PETROBRAS – os jovens da comunidade criaram o grupo ‘Jovens Ação do Bem’, com o objetivo de exaltar as tradições culturais de sua comunidade e também dialogar sobre os problemas que eles enfrentam no dia-a-dia.

A comunidade conta com alguns exemplos de jovens engajados e mobilizadores sociais, que atuam em movimentos sociais da região. O grupo, porém, busca valorizar essas iniciativas e expandir tais valores, sendo fonte de inspiração para outros jovens para que estes se empoderem e fortaleçam a terra onde vivem.