Grupo Jovens Remanescentes de Eurípedes

Resgatando origens, transformando o presente

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A origem de Lagedo de Eurípedes, município de Lapão (BA), nasce de uma história de luta e resistência. Ela remonta a chegada de seu primeiro habitante, Eurípedes Souza Santos, desbravador da densa caatinga existente na área onde hoje fica a comunidade batizada com o seu nome e de onde, a partir do Projeto Juventude Quilombola, os jovens se organizaram e fundaram o grupo “Jovens Remanescentes de Eurípedes” .

Tal grupo tem como principal ponto de distinção a valorização da história local e da cultura quilombola marcada pela trajetória o antigo Eurípedes naquela região. Afinal a presença primeira de Eurípedes foi o primeiro passo de resistência que fez com que outras pessoas se instalassem por ali, com o velho Firmino José de Oliveira, José Pereira, Silvério Souza Santos, Aquiles Santana, dentre outros. Foi assim que se formou primeiro aglomerado de famílias que buscaram afirmar sua presença nas terras da região.

Os primeiros habitantes enfrentaram grandes estiagens e a ausência de serviços básicos do Estado durante décadas para se estabelecer de forma firme. Com o crescimento da população local, surgiram os primeiros comércios e contato com cidades próximas como Lapão, Ibititá, Barra do Mendes e Canarana, cujo transporte de carga e pessoas era realizada por animais como o cavalo, o jumento e o burro.

Outro ponto que perpassa a criação do grupo “jovens remanescentes de Eurípedes” são os diversos aspectos culturais. Nesse sentido, destaca-se a preservação do trabalho das parteiras, que realizam os partos na comunidade com o auxílio de ervas e chás – uma tradição antiga, do tempo dos escravos.

No dia de Cosme e Damião,  27 de Setembro, algumas famílias ainda se reúnem para comer o caruru, prato típico da culinária baiana e do candomblé. Nesse momento a juventude quilombola local vê de maneira mais forte e demarcada os traços de suas origens, dos seus descendentes que, desde a presença de benzedeiras, que praticam a arte de rezar as pessoas para curar doenças, até à culinária, se fazem presentes numa tradição transmitida entre várias gerações.

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Organização social e aspectos econômicos

Lagedo de Eurípedes tem muito forte a valorização de seus antepassados e também das conquistas comunitárias. O povoado possui três entidades que representam a organização social da localidade. São elas: a associação de mulheres, a associação dos remanescentes de quilombos e a associação dos pequenos produtores rurais. O papel das associações inspira o Grupo de jovens e se destaca na luta da população pelo acesso aos direitos básicos e melhoria das condições de vida. Por meio da atuação delas, conquistas importantes foram alcançadas como as habitações do ‘Minha Casa, Minha Vida’; a cozinha comunitária para o grupo de mulheres e um projeto de incentivo à cultura, que está em fase de avaliação da proposta.

Por meio da organização social da comunidade, também se conquistou a certificação de autorreconhecimento da localidade como comunidade tradicional quilombola. Para isso houve a coleta de assinaturas em um abaixo-assinado que foi enviado, através da prefeitura municipal, para a Fundação Cultural Palmares, que outorgou a certificação.

Aproximadamente 300 famílias que vivem da agricultura familiar moram em Lagedo de Eurípedes. Em sua maior parte, trabalham com o cultivo de milho, feijão de corda, mamona e mandioca, além do criatório mais tradicional de cabras e ovelhas. Inexiste a presença de agroindústria, o que faz com que a agricultura familiar de subsistência seja praticamente a única atividade econômica. O êxodo rural ainda é uma realidade para vários jovens e adultos, que emigram para outras regiões em busca de melhores condições de emprego e renda.

O acesso a políticas públicas de fomento a agricultura familiar ainda é precário, não havendo inclusão de famílias agricultoras da comunidade no PAA e PNAE. Dessa forma, a produção é comercializada nas feiras livres da região, no comércio local e para os atravessadores, além de servir ao consumo próprio. A maior parte das famílias está cadastrada no Bolsa Família, e uma parcela menor acessou crédito rural via PRONAF. Outra parte aderiu ao Garantia Safra.