Consciência Negra: resgate e valorização da cultura local

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Novembro é o mês dedicado a se celebrar a consciência negra. Com a criação do feriado celebratório no dia 20, a comunidade negra por todo o país celebra e resgata o legado deixado pela luta do povo negro, personificada na resistência liderada por Zumbi dos Palmares, e exaltando outras figuras históricas não tão conhecidas, como Dandara – a companheira de zumbi , mas que também foram importantes na construção dessa história tão rica, pautada na luta pelo direito mais básico do ser humano, a liberdade.

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, criado através da lei n° 12.519, de10 de Novembro de 2011, já foi adotado como feriado em mais de mil municípios brasileiros e em cinco estados através de decretos. Contudo, ainda falta muito para que a sociedade brasileira acolha a data e principalmente o tema como algo de interesse geral, estando às celebrações restritas, em grande parte, ao círculo da comunidade negra distribuída por todo o país.

O Projeto Juventude Quilombola, realizado pelo Centro de Assessoria do Assuruá (CAA) e viabilizado graças ao patrocínio da Petrobras, pensou uma estratégia para unir e incentivar as comunidades rurais quilombolas que participam do projeto, criando meios para que elas mostrassem toda a riqueza cultural nas celebrações organizadas pela equipe do CAA em conjunto com as comunidades.

Ao todo, são duzentos jovens de oito comunidades rurais quilombolas, com certificação fornecida pela Fundação Cultural Palmares em parceria com o Ministério da Cultura, espalhadas pelos municípios de Barro Alto, Canarana, Ibititá e Lapão, todos localizados no Território de Irecê. E todas elas se reuniram em quatro momentos entre os dias 21 e 30 de Novembro, para exaltar a cultura quilombola e o legado histórico e cultural da resistência dos quilombos frente à escravidão.

Com o apoio da Fundação CulturArte de São Gabriel, a equipe do CAA foi para quatro comunidades a bordo de um caminhão que se converte em palco, promovendo uma grande festa por onde passou. No dia 21, esteve na comunidade Lagoa de Eurípedes, em Lapão; no dia 22, a festa seguiu para Volta Grande, em Barro Alto, que acolheu a comunidade Lagoa Funda; no dia 29, a celebração se deu na comunidade Batatas, em Ibititá, recebendo a visita das comunidades Pedra Lisa e Canoão; e se encerrou no dia 30 na comunidade Lagoa do Zeca, em Canarana, que recebeu a visita de Brejinhos.

Em todos os locais por onde passou, o palco da juventude quilombola acolheu dezenas de apresentações culturais dos mais variados tipos, desde o tradicional reisado e o samba de roda até as manifestações artísticas de jovens, adultos e idosos que cantaram, dançaram e recitaram o caldeirão cultural do sertão baiano, nutrida no saber e no viver de quem vive na região. Também foram realizadas atividades esportivas, shows com artistas regionais, sorteios e brincadeiras, organizadas pelas próprias comunidades.

As atividades da semana da Consciência Negra promoveram também ações de comunicação popular, envolvendo os jovens participantes do projeto. Em Lagoa do Zeca, o grupo de jovens “Descendentes em Ação” produziu, por conta própria, um pequeno documentário aonde a juventude percorre a comunidade conversando com os moradores e visitando lugares emblemáticos, para contar a própria história e relatar suas origens. Entre entrevistas e filmagens de locais como a pequena lagoa que origina o nome da comunidade, o grupo resgatou a essência da própria terra onde vivem e demonstrou que eles podem ser protagonistas em processos de comunicação. Em outras palavras, provar que a comunidade pode contar a própria história sem depender de terceiros.

As atividades na semana da Consciência Negra foram possíveis graças ao envolvimento dos grupos de jovens quilombolas e demais moradores das comunidades na organização e feitura do todo, evidenciando o protagonismo nos processos que o projeto busca fortalecer no seio dos grupos. Resgatar e enaltecer a herança cultural quilombola é um objetivo que está inserido em todas as ações a ser realizadas até o final dos trabalhos, e as celebrações foram apenas os primeiros passos dessa caminhada.

Assim como a resistência de Zumbi dos Palmares serviu de exemplo na luta pela liberdade do povo negro contra a escravidão, o projeto Juventude Quilombola pretende ser um marco para a valorização e o fortalecimento sociocultural e econômico das comunidades quilombolas do território de Irecê e do Semiárido baiano, servindo de inspiração para o surgimento de mais ações do mesmo tipo e a construção de políticas públicas que tenham o povo quilombola como foco.