Grupo Jovem Pérola Negra
A diversidade cultural e o sincretismo religioso são fatores marcantes para a juventude do povoado de Pedra Lisa, em Ibititá (BA). Lá, de maneira muito singular, as tradições culturais e manifestações de credos fazem parte das imagens coletivamente construídas e resgatadas com vigor por todos. Anualmente, nos festejos de Nossa Senhora de Fátima, a padroeira local, a feitura do Caruru se reveste de simbolismos e, além de alimenta as famílias, resgatam a força de São Cosme e Damião (é notável a quantidade de irmãos gêmeos vivendo na comunidade) e da cultura africana de todos.
Com a força dessas tradições e com a vontade sempre renovada de produzir e gerar renda os jovens, por meio do Projeto Juventude Quilombola, executado pelo Centro de Assessoria do Assuruá com o patrocínio da PETROBRAS, criaram o grupo “Pérola Negra”, com o objetivo de exaltar as tradições culturais de sua comunidade e também dialogar e traçar novos caminhos para superar os problemas enfrentados cotidianamente.
História local
A comunidade quilombola de Pedra Lisa está localizada a 4 km de distância da sede do município de Ibititá, integrante do Território de Irecê, no Semiárido baiano. Seu processo de auto reconhecimento foi concluído com a certificação pela Fundação Cultural Palmares em 04 de Maio de 2011, outorgando o título de Comunidade Remanescente de Quilombola a localidade.
Evidências dão conta de que a comunidade começou a se formar no final do século XIX, quando as primeiras famílias chegaram ao local, que primeiramente foi chamada ‘Povoado de Pedra Lisa dos Patos’. Segundo relatos de antigos moradores, a primeira família a chegar à localidade não era negra, pelo contrário; era uma família de pessoas brancas, a família de Manoel Quirino de Matos, que detinha a propriedade da maior parte das terras nas redondezas.
Pouco tempo depois, em meados dos anos 1890, chegou a Pedra Lisa a família de Julião, negra, oriunda da localidade de “Prevenido” em Canarana, aonde existia um quilombo. Eles, que vieram para trabalhar nas terras de Manoel Quirino, receberam um lote de terra para construírem seu rancho. E com o passar do tempo, novas famílias remanescentes de quilombos se juntaram a primeira, originando o ponto de partida para o surgimento da comunidade quilombola de Pedra Lisa.
De onde partimos
Assim como em outras comunidades do Território de Irecê, a existência da Associação Rural e Remanescente de Quilombo Pedra Lisa 2 é fundamental para que os jovens articulados em torno do grupo, assim como toda a comunidade, reflita sobre as suas problemáticas e esteja organizada para lutar por seus direitos. A associação, que está filiada ao Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR), tem pautado as melhorias individuais e coletivas das famílias agricultoras junto ao poder público municipal e as instituições do governo estadual. Organizações não governamentais, como o Centro de Assessoria do Assuruá (CAA), cumprem um papel importante no fortalecimento comunitário.
Com tal organização, a juventude espera mudar sua realidade e quebrar um ciclo de pobreza que assola suas famílias trabalhadoras principalmente das fazendas de agricultura irrigada, onde servem de mão de obra barata para os grandes produtores do município.