O Centro de Assessoria do Assuruá (CAA), em parceria com a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (SEPROMI) da Bahia, relizou, nos dias 25 e 26 de setembro, a primeira Feira Quilombola do Território de Irecê. Com o objetivo central de incentivar um modelo de agricultura que seja diferente e ambientalmente mais responsável aliado ao resgate da identidade quilombola na região, o evento reuniu dezenas de produtoras e produtores familiares para expor e comercializar uma gama diversificada de produtos livres de agrotóxicos e/ou aditivos químicos.
Evento pioneiro no Território, mais do que promover um momento de comercialização, a Feira quilombola estimulou diversos momentos de debate e resgate cultural do povo negro na região e no Estado da Bahia. Resgatando a memória da revolta dos búzios, Movimento revolucionário baiano e negro ocorrido em agosto de 1798, a primeira Feira Quilombola do Território de Irecê mobilizou agricultores de dezenas de comunidades quilombolas da região, em sua maioria beneficiários da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER Quilombola), Projeto Bahia Produtiva (CAR/SDR) e outros projetos do CAA.
Para a Agrônoma Zene Vieira, integrante da equipe organizadora da feira, o Evento foi ainda mais importante porque mostrou à população a existência de uma cultura e de uma produção agrícola quilombola no Território. “O intuito é que as pessoas do Território saibam que existem comunidades quilombolas na região que produzem alimentos livres de agrotóxicos”, afirmou a agrônoma.
A Feira Quilombola fez parte da agenda de celebração do Agosto da Igualdade na Bahia, que integrou em dezenas de famílias quilombolas ações de fortalecimento social, econômico e identitário homens e mulheres da agricultura familiar no Território de Irecê. Ao total 20 Comunidades Quilombolas de 08 municípios do Território de Irecê parciparam da Feira em 20 barracas expositoras divulgando e comercializando produtos saudáveis.
Para o sociólogo e membro da equipe do CAA, César Damásio, o povo quilombola do Território de Irecê tem uma história preciosa e um legado que precisam ser valorizados. Quando o assunto é agricultura familiar e produção de alimentos livres de agrotóxicos a comunidades negras são exemplo de resistência e diversificação produtiva.”Esse é um momento oportuno para a gente discutir o consumo de alimentos mais saudáveis. Nós não temos nada contra à produção em larga escala, que já tem um modelo tradicional em nosso Território, mas a gente precisa refletir sobre a saúde dos nossos cidadãos. E nessa área o povo negro tem o seu legado”, afirmou.
Além de desenvolver ações de incentivo à agricultura familiar e fortalecimentos das suas Unidades Produtivas, a primeira Feira Quilombola do Território de Irecê esteve repleta de ações educativas e culturais que resgataram uma discussão importante sobre o legado da Revolta dos Búzios e a celebração das ações do Agosto da Igualdade, promovido no âmbito do Estado da Bahia, pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, para o desenvolvimento de ações para de fortalecimento e disseminação de ações educativas, formativas e de mobilização social, que traduzem os ideais da Revolta de Búzios para a difusão de habilidades e conhecimentos vinculados às muitas manifestações populares de matriz africana no Estado.
No caso da Feira Quilombola, a ideia central foi estimular e viabilizar ações para superação da pobreza e o combate ao racismo através do desenvolvimento sustentável de empreendimentos liderados por comunidades quilombolas do Território. “Antes de qualquer coisa, precisamos dizer que essa é uma ação de afirmação. Uma política de afirmação da identidade das comunidades tradicionais e do povo negro desse Estado” afirmou o Coordenador Executivo de Políticas para as Comunidades Tradicionais da SEPROMI, Cláudio Rodrigues.
Dessa forma, e se alinhando a diversas ações de fortalecimento simbólico e identitário, o CAA e SEPROMI, junto ao povo quilombola do território de Irecê, celebraram a Revolta dos Búzios numa Feira que resgatou com muita intensidade as lutas de seus antepassados negros e pobres, trazendo em si a força de uma mudança revolucionária….
